Para celebrar o aniversário de 89 anos do nosso Sindicato, mergulhamos na história da entidade e de lutas significativas da classe trabalhadora por meio de uma entrevista com o presidente Cícero Firmino Martinha. O bate-papo impresso foi destaque da edição semanal do jornal da entidade: O Metalúrgico que é distribuído nas fábricas de Santo André e Mauá. Confira a entrevista:
“Poucas entidades neste país tem 89 anos. Tenho orgulho de ser metalúrgico e fazer parte desta história”, diz o presidente Cícero Firmino Martinha num balanço da trajetória do Sindicato que faz aniversário de fundação nesta sexta-feira, 23 de setembro.
O Sindicato foi fundado em pleno início da primavera. Na sua opinião, qual o significado desta simbologia?
Ah, isso é lindo demais, sempre me marcou, pois a primavera significa renovação e esperança. Este Sindicato tem essa simbiose, esse ciclo da primavera, com o sentimento e a entrega de luta e determinação de quem enfrentou ditaduras, intransigências e momentos difíceis, mas com ternura e esperando para recomeçar. E assim seguimos e chegamos até aqui, na esperança de todos os trabalhadores que fizeram e fazem parte desta entidade, bem como nossos antigos líderes como Andreotti, Miguel Guillen, Cicote, Marcílio, entre tantos outros.
Como vê a evolução da representatividade do Sindicato?
Quando olhamos e estudamos as décadas de 1980 e as anteriores não há dúvidas que atualmente o empresariado respeita mais o movimento sindical. Antigamente, os patrões só conversavam com o sindicato se os trabalhadores cruzassem os braços e parassem as máquinas, hoje não. Bem antes disso, já sentam para discutir as reivindicações que apresentamos.
Quando pensa nas várias conquistas do Sindicato, quais as lutas são destaques?
Penso que a década de 1980 foi bem especial. Nesse período, conquistamos a redução da jornada de trabalho semanal de 48 horas para 44 horas, que, aliás, foi colocada, em 1986, na Convenção Coletiva de Trabalho de São Paulo e na sequencia introduzida na Constituição de 1988. Antes dessa vitória, numa fábrica, quando o trabalhador chegava um minuto atrasado, perdia meia hora daquele dia e ainda perdia o domingo e se tivesse um feriado perdia também. Foi uma conquista até ideológica e política. Imagina como ficou a cara do empresário que não abria mão de um minuto de trabalho. Outra conquista histórica e de avanço social é a obrigatoriedade de manutenção de emprego dos acidentados no trabalho. Tivemos uma importante contribuição nesta vitória.
E quando surge o transporte fretado para os trabalhadores nas empresas?
Também nessa época, por isso que eu considero a década de 1980 fundamental na organização da categoria. Nas greves de 1985, uma luta nossa era pelo fretamento do transporte e conquistamos isso. As grandes fábricas como elevadores Otis, Cofap, Philips, TRW, ELUMA, KS Pistões, entre outras, passaram oferecer o serviço. Imagina como eram os bairros antigamente na questão da mobilidade, trabalhadores andavam um, dois quilômetros a pé no barro. E quando chovia? Era um sufoco.
Ainda na década de 1980 teve a retomada do Sindicato?
Exatamente. De 1980 a 1982 tivemos dois anos de guerra com a intervenção dentro do Sindicato. Tinha policial à paisana aqui dentro. E antes de 1979 e 1980, em décadas anteriores, Sindicato era totalmente atrelado ao Ministério do Trabalho que era atrelado ao governo federal. Mesmo com diretoria eleita e tudo mais para fazer uma assembleia tinha que avisar duas delegacias, a de polícia e a do Trabalho. Mandava um comunicado, falava o que seria discutido, se entrasse qualquer tema que não fosse campanha salarial, já chamavam para prestar depoimento. Era essa a repressiva realidade.
Como foi participar da diretoria naquele momento histórico?
A diretoria que entrou foi para luta com Miguel Rupp presidente e o apoio de Marcílio, Cicote e eu. Era uma enorme repressão em cima dos metalúrgicos que não podiam abrir a boca para reclamar de nada, mas chegamos forte nos patrões. A partir daí retomamos o respeito da categoria.
Na vida, normalmente, o sucesso exige o fracasso. Em termos de derrotas, quais foram as piores?
No Plano Collor, no início da década de 1990, nossa base perdeu cerca de 15 mil trabalhadores, naquela má administrada abertura econômica do país muitas empresas quebraram e demitiram. Teve um impacto negativo na competitividade que destruiu fábricas que não tinham uma forte estrutura econômica. Sem falar no sequestro que ele fez nas contas bancárias do povo. E agora, nesses últimos governos, Temer e Bolsonaro, toda classe trabalhadora sentiu e segue sentindo na pele o duro golpe da Reforma Trabalhista e da Reforma da Previdência. Uma total precarização da relação entre capital e trabalho.
E o futuro do Sindico nesta expectativa de rumo aos 100 anos?
Um Sindicato mais reivindicativo, local, profissional, atuante dentro das fábricas, capaz de mostrar a utilidade e eficácia das lutas, além de se mobilizar junto com as forças políticas progressistas contra a precarização do trabalho. E no campo social, combater toda forma de opressão. Ampliar a participação da categoria mantendo o foco nas campanhas de sindicalização para uma representação cada vez mais fortes para enfrentar os desafios que surgirem, bem como a defesa da criação de empregos de qualidade. E agora, dia 02 de outubro, temos um importante passo que precisa ser dado que é eleger Lula presidente do Brasil.